O Diário de uma cereja azeda 4 : Charlotte

Ei, como vai? Tudo bem por aí? Por aqui estamos caminhando e tentando sobreviver a esse planeta. Até porque eu gostaria de estar patinando nos anéis de Saturno nesse momento. 

Sumi, sim, sumi daqui, de mim mesma de tudo, acho que fiquei congelada em uma daquelas cápsulas e aos poucos estou acordando e me levantando. 
Mas vamos para mais um capítulo dessa vida, Essa aí da foto é a Charlotte "a cachorrinha" a outra sou eu, humana amiga da cachorrinha. 
Charlotte chegou até mim em 25 de março de 2005, logo que comecei a trabalhar juntei um dinheiro e fui em um canil na cidade de mogi Guaçu ao lado aqui de mogi mirim interior de São Paulo, sim moro no Mato, chegando lá, bati palmas na residência, a dona do canil se chamava Ivone, entrei e quando ela soltou a tropa eu nunca tinha visto tanto filhotinho de shitzu junto, mas saíram abanando os rabinhos, cada um pra um lado, juro, acho que tinha uns 20. E lá estava ela desengonçada, grandona e veio direto no meu pé, peguei no colo e disse: É essa! Ela me escolheu. Paguei meus suados R$800 "realzinhos" e levei a Charlotte embora, quem deu o nome foi um amigo o Naldo, dizia que o nome era de uma personagem de um jogo, nunca soube quem era mas achei o nome lindo . 

Charlotte esteve comigo por 17 anos, morou na chácara, nadou no Rio, passeou de carro "ela adorava sentir o vento no seu rosto na janela", andou nos pastos com gramas, cavalos, búfalos e vacas. Foi em muitos churrascos, eu sempre a levava junto , ela tinha uma coleção de laços de cabelo, e seu pelo era penteado diariamente, era mais liso que o meu cabelo. 
Charlotte dormiu abraçada comigo por várias noites onde minhas lágrimas molharam seu pelo, Charlotte adorava passear na coleira, amava sair pelo condomínio portal do lago explorando as casas novas que estavam sendo construída, na chácara que virara um condomínio de luxo.
E tinha também um fiel companheiro o Yorkshire Messi, que veio pra mim com 60 dias em 2014, desde que ele chegou ele se aninhou ao lado da Charlotte e os dois se tornaram  inseparáveis, Messi era  a sombra da Charlotte, ele andava , comia, dormia e brincava com ele grudado do seu lado. Até pra tomar banho lá estava os dois juntos.

Em 2019 me mudei para um apartamento, pequeno, e coloquei a cama deles na lavanderia, como era pequeno os passeios tinham que ser lá fora , Charlotte descia os 5 lances da escada correndo para chegar logo na porta e passear, ela adorava explorar as gramas, cheirava tudo. O Messi como sempre corria pra lá e pra cá se deliciando mastigando grama. 

2021 Charlotte começou a demonstrar o cansaço, também eram 16 anos nas costas de um animal, levei ao veterinário e descobrimos um coração grande batendo no peito dela, por isso a falta de ar, os soluços e o sono excessivo, ela dormia a maior parte do tempo, era lenta para descer as escadas e começou a perder a visão por isso ela preferia ficar na lavanderia deitada no seu edredom confortavelmente. 

8 de setembro de 2022. 
Acordei e a Charlotte não havia comido , parou de beber água. Não fazia xixi , ou fazia ali deitada mesmo no edredom. Coloquei ela embaixo do chuveiro, dei um banho e massagiei a barriga pra ver se fazia as necessidades, mas nada. Minha vizinha e amiga veterinária veio dar uma olhadinha e disse que era pra eu esperar e me conformar que a hora dela havia chegado. Como assim? Esperar ? Esperar o que ? Como vi que ela estava muito ruim, sequei seu pelo que já não era comprido, enrolei ela em um cobertor e lá fomos nós de Pcx  rumo ao veterinário, paramos em um posto de gasolina para abastecer, e quando seguimos caminho ela sentiu o vento bater no seu rosto como ela sempre amou, ali eu sabia que seria a última vez que passávamos juntas com o vento batendo em nossos rostos.
Charlotte sempre foi muito brincalhona , não sabia morder fraco e adorava brincadeiras de lutinhas com as mãos embaixo do cobertor. Nesse momento passaram tantas lembranças em minha cabeça, tantos momentos vividos juntos, para muitos era apenas um cachorro , pra mim era minha melhor amiga, companheira, filha, um membro importante da minha família. 
Enfim chegamos a clínica, a Dra Débora vital a examinou, seu abdômen estava muito inchado, dava para sentir com as mãos seu fígado alterado de tamanho. Ela me olhou e disse: eu posso deixar ela internada , estabilizar ela , porém é uma senhorinha vamos prolongar a vida e talvez o sofrimento dela. Então optamos pela eutanásia, Charlotte vinha sofrendo muito, dores, mal estar, seria egoísmo da minha parte querer ela aqui nesse mundo porque eu não conseguia me ver sem ela. 
Ok, deitada ali naquela mesa de inox gelada , quando aplicou a primeira injeção que era apenas para ela dormir ela imediatamente parou de respirar, eu a abracei e coloquei meu rosto nas suas costas e pude sentir o coração ainda batendo , e aos poucos foi ficando fraquinho e parou. Ali ela descansou dessa vida, levou com ela muitas lembranças e com toda certeza levou um pedaço enorme de mim junto para o céu dos cachorros, onde não existe crueldade, maus tratos, fome, frio, abandono. 
Senti como se meu coração tivesse dado um nó no meu peito de tanta dor, me faltou ar para respirar, como se eu tivesse levado um soco bem no estômago. 
Não teria coragem de enterrar seu corpinho então optamos pela cremação. Ali deitadinha naquela mesa eu deixei um sonho, uma parceira, uma amiga, uma filha e não só um cachorro. 
Tudo que vivemos foi intenso, lindo, inesquecível e eu só posso dizer uma coisa nunca ninguém me amou tão intensamente como ela, nunca ninguém me foi tão fiel, leal e companheira e eu vou amá-la e agradecê-la pelo resto dos meus dias sem ela aqui nessa terra. 
PS.Te amo para todo sempre, minha pequena Charlotte.

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